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Dois temas de Júlio Verne

Dois temas de Júlio Verne, este Victor Hugo da viagem: a escotilha do Nautilus, cesura transparente entre os sentimentos flutuantes do observador e os movimentos de uma realidade oceânica; a ferrovia que, numa linha reta, corta o espaço e transforma em velocidade de sua fuga as serenas identidades do terreno. A vidraça permite ver, e os trilhos permitem atravessar.

A vidraça do aquário

Mas, paradoxo, é o silêncio dessas coisas colocadas à distância, por trás da vidraça que, de longe faz as nossas memórias falarem ou tira da sombra os sonhos de nossos segredos...

O vagão do bonde

... o vagão alia o sonho e a técnica... Os contrários coincidem durante o tempo de uma viagem. Momento estranho em que uma sociedade fabrica expectadores e transgressores de espaços, santos e bem-aventurados colocados nas auréolas-alvélos dos seus vagões. Nesses lugares de preguiça e de pensamento, naves paradisíacas entre dois encontros sociais, realizam-se liturgias atópicas, parênteses de orações em destinatário (a quem se dirigem portanto tantos sonhos viajores?).

Michel de Certeau. Naval e carcerário. In: A invenção do cotidiano.

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