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Memória inventada


No ritmo já está a dança e vice-versa

Octavio Paz

O já passado 1º de agosto me faz lembrar do corpo ter entrado no ritmo de Tempos Modernos antes da mente, não o ritmo do tique-taque, mas o ritmo que só se mede por régua de lesbos, aquela que se adequa, que se molda à irregularidade das coisas.

Isto é, o corpo esteve à vontade bem antes da mente, que buscava ainda coisas a fazer até acabar chegando ao ritmo do corpo. Segui eu meu corpo ou minha mente me seguiu? Não importa, o valor é o de estar entre as pessoas, ouví-las: "é uma filmagem", "não passa na frente, menino".

Outro menino, de 11 ou 12 anos, diz para dois amigos para terem cuidado com as bicicletas porque "estavam passando pelo século dezenove". Não importa que não bata com nossa caracterização, o garoto aceita a sugestão do ritmo e solta a frase-invenção. Sem discurso, sem convencimento.

Quando estamos no centro do lago, em uma plataforma circular ligada à margem por uma ponte, lá nos bancos em torno do lago as pessoas interpretam a si mesmas em frente à televisão e dizem que vão ver a novela; uma moça diz que vai assistir a Outro Tempo. Pode-se discutir a TV como referência, mas que interpretavam, sim, interpretavam.

O Jardim Botânico foi carinhoso conosco, havia música, um pique-nique, crianças nos seguiam e desde sempre foram as primeiras a notar o ritmo.

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